6.4.12

Erro

Tudo estaria bem se já não fosse o fato de estar escrevendo sobre algo que eu já sei que é um erro.
Nós.
Como assim?
Simples.
Estamos condenados.
Não damos certo juntos, mas ao mesmo tempo existe uma gravidade cruel que nos mantém sempre perto um do outro. Um desejo mórbido de esbarrar com o outro na esquina.
E pior: nós gostamos disso.
Piadinha sem-graça do destino.
A gente sabe q não serve pro outro, que vai dar tudo errado, que a gente não funciona nessa rotina sarcástica de casalzinho, no entanto quando nos encontramos somos transformados em reféns dessa química explosiva, e basta um toque para que a gente se entregue ao vício de degustar a essência do outro, se perdendo no calor do corpo e na perfeição do encaixe, como dois atores que encenam a mesma peça a anos. Nada de palavras, explicações, desculpas, só um roteiro conhecido, suas mãos me apertando e tirando toda a roupa do caminho, e eu fazendo o mesmo, até culminar com a sua língua quente dentro da minha boca enquanto você me invade.
Sexo urgente, espontâneo, visceral.
Sim, sentimos falta da voz, do cheiro, do calor do corpo, da simples presença pra poder ter com quem implicar, e quando nos encontramos, nos damos conta pela enésima vez do que já estamos cansados de saber: não dá certo.
Não podemos ficar juntos, pq o desejo sempre desanda pro conflito, todos dois pavio-curto, sabe como é, mais de 24h juntos é briga na certa, no entanto o encaixe dos corpos é perfeito, e a gente se devora sem pena. E sem remorso.
E mesmo assim não damos certo juntos.
Seu jeito de moleque me irrita e me faz pensar "porra, que que tô fazendo?" assim como eu sei que o meu jeito esnobe e aristocrata também te irrita.
Entao me explica porque eu te quero tanto. E eu vejo nos seus olhos a mesma maldição. E o mesmo desejo.
Por quê que ao fechar os olhos me pego pensando na gente, naquela cumplicidade besta e idiota de um sorriso, no calor molhado de um beijo que eu sei que não deveria dar nem desejar?
Mas que diabos!
Queria poder me livrar dessa dependência, me curar desse vício com algum remédio mágico, esquecer que você existe, ficar imune a essa química perversa, mas simplesmente não consigo. E não quero.
Como aquela afta que sara se você parar de passar a língua, mas não se consegue.
Eu quero você como o drogado deseja a droga, sabe que vai fazer mal, mas mesmo assim quer. Desesperadamente.
Sinceramente.
De corpo e alma.
Não sei como me livrar disso.
Não sei nem como terminar este texto.